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sábado, 1 de maio de 2010

Sonhos Em Uma Caixinha

- por Camilla Lopes

A vida é feita de sonhos, certo? Certo. Com isso, acredito eu, todos nós concordamos. A real questão é: até que ponto estamos dispostos a ir atrás de algum sonho? Acho que escrevo sobre isso sem nenhuma conclusão já formulada na cabeça, pois essa é uma dúvida que eu sei que sempre tive, mas nunca parei pra tentar organizar as ideias.
Pra começar, pensem em quantas pessoas adultas vocês conhecem que estão plenamente satisfeitas com o rumo que suas vidas tomaram. Quantas estão morando à beira da praia tirando fotos do mar e dos peixinhos? Quantos viajam pelo mundo bancadas pela sua própria empresa? Quantas fizeram sucesso com sua banda e fazem grandes turnês até hoje? Sonhos todas tiveram, tal como a oportunidade pra realizá-los. Acredito que todos nós temos essa oportunidade, alguns com mais fácil acesso a ela, outros com menos. Então por que limitaram seus desejos a suas cabeças? Por que tanta gente olha pra Dança dos Famosos no programa do Faustão e fala “meu sonho sempre foi dançar! Preciso voltar a fazer aulas de ballet!”? Sabe o que mais me intriga? Elas não voltam a fazer. E pior ainda: se voltam, o esforço dura uma semana, um mês no máximo. E, em minha opinião, o grande causador disso é o comodismo. Sim, quando você é jovem, tem planos e mais planos pro futuro, e, mais importante ainda, força de vontade pra realizá-los (ou pelo menos pensar neles e dizer que os deixará pra mais tarde. Afinal, você é jovem). O tempo passa e, quando vai ver, surgem oportunidades de emprego. Por que não aceitar? Um dinheirinho a mais não faria mal a ninguém. O tempo fica mais curto, as suas antigas atividades são deixadas em segundo plano. O cansaço toma conta, você tem vontade de ficar em casa, ficar mais cinco minutinhos na cama, tirar o dia pra deitar no sofá e assistir filme, mas aquele dinheiro já virou essencial na nossa vida, porque agora você tem uma casa e um carro, está até pensando em se casar. E sabe de mais? Sempre teve vontade de ter filhos. O final da história todos já sabemos: é você parado no trânsito pensando como a sua vida podia ter sido diferente, como você deixou ela tomar esse caminho infeliz. Você, aquele pequeno revolucionário em épocas passadas, agora só mais um peãozinho na sociedade vivendo sua vida banal. Ok, eu posso estar exagerando um pouco, muitos sonham com essa vida banal, com o sossego da estabilidade e da situação confortável. Mas duvido que eles também não tenham deixado sonhos pra trás. Poucos moram em uma casa grande com móveis antigos, quadros na parede, um piano no canto e uma pequena biblioteca no andar de baixo. Têm seus filhos bem formados, netos correndo pela casa com fotos antigas na mão, perguntando das tantas viagens que você e seu companheiro ou sua companheira fizeram, o qual ou a qual você admira muito, mesmo depois de tantos anos juntos. Poucos têm seus diplomas espalhados pela mesa do escritório, junto com o orgulho que têm deles e do lindo trabalho que puderem exercer durante a vida profissional.
E bem, a única conclusão à qual chego escrevendo esse texto é a de que, se acontecer de eu relê-lo daqui a alguns anos, espero que o sentimento de nostalgia não tome conta de mim, e que eu não pense “sua idiota, você é exatamente o que você critica”.

Um comentário:

  1. Acordei. Um balde de água fria para qualquer um ler. O filme que falei "a dona da história" fala disso, da questão de realizar sonhos, aproveitar oportunidades e o que seria da sua vida se tivesse escolhido tal caminho.. Gostei muito do texto, sou obrigada a concordar e assumir que sou assim, quero muito e sonho constantemente mas nada sai do lugar, o que resta são apenas os desejos, mas estou começando a mudar essa situação :) Muito bom..

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