O PAPEL É O MELHOR OUVINTE, PORQUE NÃO TE ESCUTA SÓ PRA ESPERAR A VEZ DE FALAR






sexta-feira, 30 de abril de 2010

Do amor, desses de cinema...

-por Otávio Silva

É engraçado. Ou melhor, irônico. Você se apaixona e se declara, ou não. Você sente frio na barriga e se arrepia, ou não. Você transpira, não respira, e pira, ou não. Mas de certo, você nem consegue pensar. Pois se pensasse, não entraria nessa.

Isso tudo é a paixão. O amor é outra coisa. Vem depois e com o tempo. Não se sente por dentro. É sentido por fora, é uma exteriorização, quase que uma transcendência. É a preocupação com o outro e a vontade de estar por perto.

E quando acaba você sente exatamente o inverso, como se os dois extremos do sentimento não tivessem separados por uma longa escala. Ou uma escada, aquela que vocês dois se esforçaram tanto para subirem juntos, degrau por degrau.

O amor hoje é uma expectativa de conto de fadas. Mas não se deve amar o vidro, esperando que vire cristal. Nem o sapo, esperando que vire príncipe. Há vidros, sapos e milhares de súditos que também merecem ser amados.

Devemos amar os defeitos dos outros também. Aqueles que fazem com que só nós agüentemos o outro. Mas que não agüentemos passando a mão na cabeça ou dando tapinhas nas costas. É preciso respeitar o espaço do outro, também. É preciso brigar, discutir, comunicar. Comunicar é a ação de tornar comum. Transfiram significados, nomes, apelidos...

Pensando bem, deixem pra lá, façam o que quiser.

segunda-feira, 26 de abril de 2010

E se eu morrer?

-por Otávio e Silva


 

Pra onde é que eu vou?

Se estou aqui e agora,

A que hora e em que lugar

Vão me encontrar?


 

O que você esperaria

Do dia do juízo final?

Jornal, foto, revista?

Na pista, um carro.

No barro, um acidente.

A gente, no caixão.

De coração, corpo e alma.

A calma, a raiva, o amor...

A dor, a alegria, a saudade...

A amizade, ou não...

Em vão.


 

Se eu morresse,

Você choraria ou sorriria?

Iria ao enterro ou a uma festa?

Ficaria incomodado se eu viesse te visitar?


 

Quando eu morrer,

O que você faz ou deixa de fazer,

Pensa ou acha,

Não vai fazer diferença.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

As Estrelas

-por Otávio Silva


No céu, vemos a luz das que morreram,

Dizem que não vivem mais, simplesmente,

Nas cidades, já desapareceram.

Devem ser, pois, coisa da nossa mente.

.

Só pela sorte, regidas não são,

Só pode ser algo muito mais forte.

Nem por uma constante, ou equação,

Terei uma luz raiando pós-morte?

domingo, 18 de abril de 2010

Eu não me importo: “Este é só o começo do fim da nossa vida”:

-por Otávio Silva

Ele nasceu quando tudo ainda era escuro. Tudo ainda era o nada, a imensidão fria e silenciosa. Ele nasceu pequeno, chorão e sozinho. Chorava pela vida e, caso se assemelha mesmo conosco, pela companhia também. Ele explodiu quando cresceu, pois cresceu demais. Cresceu tanto que não cabia mais. Ele vive hoje ainda. Vive em todo e cada pedaço originado daquela explosão.

Tem gente que gosta de conceituação. Entretanto, teriam dificuldades para nomear quem é ele. Tem gente que não admite a sua existência. Tem gente que não consegue aceitar. "Tem gente que vê Deus quando canta e canta procurando Deus". Tem gente que prefere ficar "em cima de um muro de hipocrisia". Mas ninguém pode ter absoluta convicção daquilo que não se pode constatar.

Evidências existem, mas não comprovam. A verdade é sempre uma, mas é como uma moeda pendurada por um fio invisível no meio de um aquário: o vidro deturpa sua visão, a água, mais um pouco. O fio é visto por alguns, mas por outros, não e dependendo de onde você está só enxerga uma face da moeda, ou às vezes, nenhuma delas.

O modo de vida humanista, com o Homem e a sua "razão" no centro das atenções levou os homens à criação da polis grega, depois à urbanização do século XVIII e vivemos agora em um provisório auge dessas organizações sociais. A ânsia pelo progresso racional é a causa de todo este desenvolvimento.

Mas que "desenvolvimento"? De que valem os "não sei quantos" cavalos de potência mensurados do seu automóvel quando há uma fila deles na sua frente? Aquilo em que você acredita hoje, não acreditará amanhã. A cada descoberta científica, tudo em que se baseavam teorias e teoremas desmorona, e é reconstruído um novo modo de se enxergar aquela moeda.

Eu, infelizmente, não "nasci há dez mil anos atrás" e não me arrisco em dar um veredito. O Big Bang pode realmente ter existido, autótrofos podem ter surgido na água e sofrido mutações, que nem Darwin soube explicar direito, e hoje Lamarck é escorraçado por ter tentado. Não ouso desmentir nada disso, e até certo ponto boto fé em alguma coisa desses pontos de vista.

Mas ao mesmo tempo em que eu escrevo, e no mesmo exato instante que você lê, tem alguém desafiando tudo isso. Lutando contra tudo isso, tem alguém, em alguma parte do mundo, que passa a desfazer as relações de unidades matemáticas e começa a desconfiar dos números. Perto da fé, de nada representa uma relação percentual, quando se está à beira da morte. E "como pode alguém sonhar o que é impossível saber", assim como fazem os sensitivos?

Diante da minha total incapacidade em entender e compreender tais fenômenos, tanto os baseados na ciência, tanto os na fé, é de tamanha inutilidade permanecer parado quieto e analisando o aquário. Eu tento rodeá-lo, procurando pela moeda, para tentar enxergar de tudo quanto é lado possível, mesmo que ela se mantenha girando, a visão nunca será a mesma. Desconfio sempre dos livros, mesmo que seja sagrado. Só não me importo, nem um pouco, em creditar tudo aquilo que está fora de minhas limitações a Deus. Juro que não me importo em pensar ser a Sua vontade a força vital que: movimenta peristalticamente nosso tubo digestor; sintetiza proteínas a partir de lisossomos; ou ainda aquilo a que chamamos comumente de destino ou acaso – que "vai me proteger enquanto eu andar distraído".

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Bradowski

- por Daniel Bagagli

Olhar ao redor e perceber que ninguém é igual a você. Ninguém. Nem ao menos aquele ser que faz o mesmo trajeto que você quase todos os dias do ano. Na verdade, quem sabe, ele é o seu oposto – exatamente o contrário do que você é. Que coisa estranha, não?

Ao mesmo tempo é triste, não só estranho. Quero dizer, acaba sendo ruim não achar alguém igual a você. Não há aquele compartilhamento de idéias, de pensamentos, de sentimentos em alta intensidade. Existem apenas meras casualidades.

Não é a toa que escolhemos pessoas especiais em nossas vidas pelo tanto que compartilhamos juntos – mesma maneira de viver a vida, quem sabe; mesma maneira de encarar o mundo; mesma maneira de amar. Em contraponto, não escolhemos o ser que percorre o mesmo trajeto quase todos os dias do ano – não compartilhamos nada além disso.

Agora, sem pensar no micro. Amplie esse pensamento: das ruas de casa ao trabalho para todo um povo – ou melhor, todo um mundo. Algo tem que ser dito pensando assim – a tendência é ficar cada vez mais triste. Não há alguém no mundo igual a você. Existirá alguém possivelmente muito parecido, mas talvez ele more no Nepal, e sua chance de conhecê-lo é grandiosamente pequena.

Puxemos daí uma linha de raciocínio: certo, entendemos que não há ninguém igual a nós. E daí? Pois então, como podemos esperar que algo dê certo? Quero dizer, como saber que o mundo irá mudar? Afinal, se Stálin fosse igual a mim, o mundo não seria assim com certeza hoje. Se Bush fosse igual a mim, o mundo não estaria igual à hoje. Se o piloto do Enola Gaye fosse igual a mim, o mundo não seria igual à hoje. Se Henry Ford fosse igual a mim, o mundo não seria igual à hoje. Não entro em nenhum detalhe quanto ao porque deles serem diferentes de mim, e o porquê de ninguém ser igual – a isso deixo a Biologia e a Sociologia (que, por sinal, não existiriam se seus precursores fossem iguais a mim).

Acabo de perceber que mudei o final do texto – mudei completamente de opinião enquanto o escrevia. Ainda acho triste o fato de não ter alguém igual a mim espalhado pelo mundo: já o visitei para tentar encontrar. Mas acho tudo isso agora muito engraçado, pois nós nunca fomos feitos para conviver com alguém igual. A graça está em conviver com as diferenças, sabendo que elas existem. Tentar contorná-las parece ser mais impossível do que a missão numero um em questão. Afinal, é de todas essas diferenças que surge tudo o que vemos hoje no mundo, da pobreza aos cursos de faculdade, da destruição à invenção tecnológica.

Obviamente, ainda teremos o nosso ideal ferido por alguém que não concorda conosco; a nossa raiva aumentada por alguma atitude que condenamos; o nosso coração quebrado por alguém que não ama igual a nós. Mas, e daí? Esqueçamos um pouco nosso próprio eu uma vez na vida.

Fico feliz enquanto concluo esse texto: se o mundo fosse igual a mim, seria um tédio. E, se você fosse igual a mim, não estaria lendo esse texto em absoluto: odeio esses textos.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Ele e Ela

-por Otávio Silva

.

Ele era apaixonado por ela

Passava o dia lhe procurando

Achava-a linda, achava-a bela

E se recolhia à noite, chorando

.

Ela era apaixonada também

Gostava da noite, da boemia

Chamava sempre a atenção de alguém

Aceitava toda e qualquer companhia

.

Mas a ele, não dava atenção

Ele tentava, corria atrás

E ela ainda diz não

A todos convites que ele faz

.

Vez em quando se encontravam

E ela fingia que nem via

Se os olhos dele pelos dela passavam

Ela logo os viraria

.

Nenhuma outra o interessava

Ela era mesmo apaixonante

Até do mar, a atenção chamava

Era a inspiração de qualquer amante

.

Viviam em discórdia

Ele só queria vê-la nua

Essa é a história

Do amor do Sol pela Lua

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Análise (super) amadora de Na Natureza Selvagem



- por Camilla Lopes

[SPOILER]

Em uma conversa no melhor estilo boteco, estava comentando com um amigo sobre o filme Na Natureza Selvagem, e dentre os diálogos que rolavam à parte na minha cabeça, cheguei a uma conclusão meio estranha: o padrão da sociedade do século XXI é criticar o padrão da sociedade. Digo, já virou rotina ouvir alguém segurando nos canos do metrô e resmungando “Essa sociedade de hoje em dia... Essa democracia de hoje em dia...” ou então aqueles pseudo-revolucionários que leram alguns livros do Rousseau e se dizem anarquistas sem nem bem terem vivido esse tipo de coisa. Pode até ser um senhorzinho falando que o mundo não é mais como era antigamente (claro), ou ainda aqueles historiadores ou sociólogos (e derivados filósofos, antropólogos, psicólogos) que realmente estudaram o assunto e entendem um pouco mais, tendo um argumento talvez mais consolidado. Seja lá em qual desses grupos uma pessoa se encaixe, a moda agora é criticar a sociedade, e esse é o novo padrão. Vejo muito isso no filme, que por sinal foi baseado em fatos reais. O protagonista Christopher McCandless, interpretado por Emile Hirsch, apoiando-se em livros de autores como Rousseau e Thoreau, larga tudo e sai em direção ao nada para uma “purificação da sociedade”. A coragem dele, tal como seus ideais, me chamaram a atenção. Acredito que muitos já sentiram essa revolta contra algo no seu dia-a-dia e tiveram vontade de ir embora, viajar o mundo a fora ou coisa assim, mas poucos de fato o fazem. O decorrer do filme e as conclusões que ele chega sozinho são, a meu ponto de vista, sensacionais. A impressão que tive no final é a de que ele consegue se purificar, mas percebe que de nada adianta muito isso, pois “happiness only real when shared”. Ok, bela conclusão, mas algo me faz pensar que ele já tinha percebido isso antes, já tinha sentido falta de compartilhar seus momentos e ideias com alguém, e de ter uma família. Se via isso nos laços que ele fazia com as diferentes pessoas que encontrava durante a jornada, e a dificuldade com a qual ele as deixava. Como se ele soubesse no fundo que aquilo era importante pra ele, mas seguia viagem devido à enorme crítica ao mundo que colocou na cabeça. Devido ao novo padrão da sociedade de criticar o padrão da sociedade, talvez?