O PAPEL É O MELHOR OUVINTE, PORQUE NÃO TE ESCUTA SÓ PRA ESPERAR A VEZ DE FALAR






quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Resenha do texto “Por uma outra globalização – do pensamento único à consciência universal”, de Milton Santos.

-por Daniel Bagagli


 

Texto: http://www.fundaj.gov.br/observanordeste/obex02.html

    A respeito do texto, Milton Santos descreve e analisa criticamente o fenômeno atual da globalização, citando suas bases estruturais e suas principais características, destacando, sobretudo, seus atores; além de auferir considerações finais sobre o processo analisado.

    Em primeira instância, Milton Santos logo adverte que o fenômeno da globalização atual não é "semelhante às ondas anteriores, nem mesmo uma continuação do que havia antes" (p. 140). Mais ainda, define-o como tendo influência, direta ou indiretamente, para a maior parte da humanidade, sobre todos os aspectos da existência.

    O autor caracteriza o processo, ainda, como um fenômeno que não se verifica de modo homogêneo, tanto na sua extensão quanto na sua profundidade. Santos observa que "os indivíduos não são igualmente atingidos por esse fenômeno, cuja difusão encontra obstáculos na diversidade das pessoas e na diversidade dos lugares" (p. 143).

    A cultura de massa adquire papel fundamental para Milton Santos, como um pilar do processo em análise, que tenta homogeneizar e impor-se sobre as culturas populares. É resultado de um mercado cego e alheio às diversidades culturais dos lugares e das pessoas.

    O que é interessante na obra de Milton Santos, é que ele discute uma questão chave dos dias de hoje: seria esse processo, um processo irreversível?

    A leitura atenta nos deixa claro que o autor tem completa ciência que a idéia de irreversibilidade da globalização atual "é aparentemente reforçada cada vez que constatamos a inter-relação atual entre cada país e o que chamamos de 'mundo'" (p. 149). Isto é, os países estão cada vez mais se juntando em um todo indissociável, criando relações também cada vez mais difíceis de serem desfeitas.

    Além disso, Milton Santos destaca que o "papel da ideologia na produção das coisas e o papel ideológico dos objetos que nos rodeiam contribuem, juntos, para agravar essa sensação de que agora não há outro futuro senão aquele que nos virá como um presente ampliado e não como outra coisa" (p. 159). Ou seja, a sensação de irreversibilidade se agrava ao analisarmos a situação dos objetos que nos cercam, permitindo acharmos que o futuro em nada será muito diferente do que esse presente que vivemos. "Daí a pesada onda de conformismo e inação que caracteriza nosso tempo, contaminando os jovens e, até mesmo, uma densa camada de intelectuais" (p.159), completa o autor.

    Todavia, Milton Santos declara: "A globalização atual não é irreversível" (capítulo 29, p. 159). Ele apresenta, assim, inúmeras opiniões e análises que o levaram a pensar dessa maneira.

    Em princípio, para Milton, o "novo" teria que nascer das centralidades – baseado na História, em que os atores principais eram sempre os países centrais. Porém, para ele os países centrais a mudar o rumo da História, agora, não são mais os países da Tríade (EUA, Japão e Europa): mas, sim, a periferia.

    A periferia – que com o processo atual de globalização é influenciada e cada vez mais dominada pela imposição dos interesses da Tríade (e de suas empresas globais)- seria o lugar em que nasceria a mudança. Isso porque é aí em que se dará o maior numero de indigentes e pobres, resultado do fenômeno de globalização atual. É dessa convivência com a escassez que nascerá e se fortalecerá a cultura popular (resistentes à cultura de massas e ao processo em questão), baseada na solidariedade social e na compaixão.

    Dessa convivência com a escassez ampliar-se-ia, ainda, a consciência dessa grande massa, passando a se questionarem quanto ao seu papel e importância no mundo.

    As culturas populares seriam capazes de reverter a globalização atual (vertical "de cima para baixo", para "de baixo pra cima"). Reverteria, também, a centralidade das ações: atualmente, o dinheiro é o motor primeiro e último das ações dos homens. Para Milton Santos, a centralidade das ações tem que ser o Homem, e o bem estar dele. E somente as culturas populares conseguiriam dar forma a isso.

    O fenômeno de globalização talvez seja, em si, irreversível. Entretanto, devemos nos questionar: que globalização queremos?

    Milton Santos responde: uma outra.

    Uma outra cuja centralidade das ações seja localizada no Homem, ao invés do dinheiro. Uma outra que se caracterize por cooperações horizontais, baseadas na solidariedade social e na compaixão. Uma outra caracterizada pela revalorização filosófica do Homem.

    "Essa revalorização radical do individuo contribuirá para a renovação qualitativa da espécie humana, servindo de alicerce a uma nova civilização" (p. 169).

    

domingo, 7 de novembro de 2010

Teste Vocacional do Brasil

-por Otávio Silva


 

    Vocação, vocativo, invocar, evocar... Quando dizemos que alguém tem vocação para realizar algo, queremos dizer que essa pessoa está respondendo a um chamamento. Chamamento talvez de Deus, da Vida, dos pais, de alguém. É uma inclinação, uma habilidade, um jeito especial para aquela coisa... É um dom! É um dom... Engraçado.

    Seus hábitos, suas perguntas, seus valores, suas respostas, sua personalidade, seu jeito... Tudo desmascarado, desmistificado. Tudo a sua disposição para você escolher o que quer fazer de sua vida. Tudo à disposição para escolherem o que querem fazer de sua vida. Tudo à disposição.

    Todos doutores: médicos, publicitários, arquitetos, advogados, designers, nutricionistas, dentistas, engenheiros. Todos sucedidos: jogadores, pilotos, atletas, artistas, astros... Astros! Não é nem um pouco fácil chegar a tudo isso, mas ainda assim todos tem alguma dessas respostas nesses testes.

     Noites sem dormir, livros devorados, medos transpassados, cálculos certos, cálculos errados. Turnos virados, chefes estressados, treinos esforçados, aulas mal assistidas. Cenas e jogadas ensaiadas, maquiagens borradas, pernas machucadas. Você quer passar por tudo isso? Não? Nem eu.

    Porque ninguém tem vocação para ser, assim, sei lá... Faxineiro? Por que não? Quem sabe?! Limpador de vidros em andaime! Que tal? Passador de roupa, servidor público, taxista, motorista de ônibus, pedreiro. Por que não? Quantos testes você conhece cujo resultado indicou o caminho de Deus? Ou ser professor do ensino público? Ou funcionário do sistema carcerário brasileiro?

    Parece-me que este negócio de vocação é uma pura justificativa moral ou talvez social para que as pessoas sigam um caminho profissional bem aceito, um caminho que, sobretudo, aumente, ou ao menos mantenha, o extrato hierárquico social que a pessoa ocupe. E o que acontece com as outras profissões é que, além de continuarem sendo sempre mau vistas, elas também são desvalorizadas por grande parte das próprias pessoas que as executam.

    É claro que existem pessoas com vocação ao trabalho voluntário, ou ao serviço social comunitário, mas quantas realmente sabem disso, ou quantas são impulsionadas para outros caminhos por pressão das pessoas ao redor? E quantas pessoas querem realmente ajudar o Estado? Ou apenas sugar dele o que dele conseguir? Férias remuneradas, décimo terceiro, irredutibilidade de vencimentos, inamovibilidade, aposentadoria integral...

    Cada um só quer se ajudar. E também ajudar os mais próximos. Ache a sua vocação, ajude-se, e tente estar em uma linha não muito distante do horizonte daqueles que conseguirem o sucesso na área onde decidirem seguir.