O PAPEL É O MELHOR OUVINTE, PORQUE NÃO TE ESCUTA SÓ PRA ESPERAR A VEZ DE FALAR






quarta-feira, 31 de março de 2010

Despedida

-Moço, cadê meu pai e minha mãe?
Foi sua primeira pergunta quando acordou. Estava sozinha. E parecia consciente da situação em que se encontrava, apesar de sua pergunta, à qual o homem que chegava ao quarto não conseguiu responder. A menina, com um rostinho moreno e delicado, que denunciava seus dez anos de idade, tinha um cabelo negro forte, todo cacheado, que emoldurava os seus olhos cor de esperança, já morta ao se ver deitada em uma cama desconhecida e vestida de roupas brancas. A cama estava em cima de um chão igualmente branco, que se estendia até as paredes alvas enfeitadas com bichos e desenhos. O homem que chegava também vestia um avental branco e, sem fazer qualquer comentário, ele apenas mexeu no soro da menina. Foi da mesma cor o clarão que iluminou a última visão consciente da qual ela tinha lembrança.
E então, ela acordou novamente, meio desnorteada, sem saber muito bem o que estava acontecendo. Provavelmente a grande dose de sedativos ainda corriam em suas veias. Uma grande dose para uma pequena menina. Havia acordado com um peso a mais do lado esquerdo de seu colchão. A menina olhou para verificar qual o motivo daquele desconforto e se deparou com uma moça loira, cabelos ondulados, um rosto juvenil e angelical, transparecendo cumplicidade e calmaria, sentada no canto de sua cama. “Olá, pequenina”, disse a doutora. A pequena tentou abrir um sorriso e responder o cumprimento, mas foi quando percebeu quão limitados estavam seus movimentos. “Não se preocupe”, disse o rosto angelical percebendo a dificuldade da garota, “vim aqui só para conversar com você.” A menina se sentiu aliviada. Finalmente entenderia o porquê de estar ali. Fez força para lembrar alguma coisa que a ajudasse a acompanhar a conversa que viria, mas se lembrava apenas de momentos embaçados, confusos. Será que ela realmente queria saber o que havia acontecido?
A moça loira recomeçou a falar: “Veja bem, querida. Agora é um momento em que você precisa ser forte, e eu sei que você é. Já é uma mocinha, certo? Sabe que a vida é uma caixinha de surpresas e que as pessoas vão e vem, cada uma em sua hora.” A garotinha via aonde aquilo ia dar. Ela podia ter 10 anos, mas não era boba. Só não sabia se queria ouvir. Toda aquela baboseira de caixinha de surpresas e cada um tem sua hora era o tipo de coisa a qual os médicos eram treinados a dizer. Até mesmo a carinha acolhedora tinha sido um treinamento algum tempo atrás. Nada daquilo importava. Nada daquilo ia adiantar o pouco que fosse. E então a menina resolveu bloquear qualquer sentido, qualquer entrada ou palavra que pudesse afeta-la, de qualquer maneira. Esperou cuidadosamente a doutora bonita terminar de falar seu ensaio e sair pela porta para deixá-la sozinha. Quando isso finalmente aconteceu, ela se sentou na cama. Percebeu que havia vários tipos de corda que estavam a prendendo na cama, que iam de drogas a agulhas na veia. Mas isso também não importava. Ela se levantou zonza, com uma extrema dificuldade de movimento, e seguiu em direção à porta que provavelmente seria o banheiro. Entrou lá evitando se olhar no espelho, se encostou à parede e se deixou escorregar até o chão. Deitou de lado segurando suas pernas junto ao peito, apertando forte, tentando diminuir seu tamanho até sumir. Sumir seria uma boa idéia. E ela começou a pensar no que mais seria uma boa idéia. Talvez voltar para cama e esperar por mais sedativos para poder dormir, talvez ir ao encontro de seus pais naquele lugar o qual a moça loira chamou de “lugar melhor, onde eles estão mais felizes”. Ela não teria muito tempo para a pensar, a dor já havia tomado conta de todo o seu corpo, tanto de dentro para fora, quanto de fora para dentro.

4 comentários:

  1. Nossa lindo o texto!
    e muuito bem escrito, parabéns =]

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  2. Muuuito bom mesmo!!! Adorei!!!! Continuem que logo poderemos juntá-los para um livro ser feito!!!!

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  3. Muito bom mesmo! triste mas mto bem escrito!
    PARABENS!
    PS: Acho que o comentario de cima é mentira.huihihihihih

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  4. Luan cara de pau!!!! Não estou mentindo coisa nenhumaaa!! Hunf

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