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domingo, 14 de março de 2010

Antropologia na Veia

-por Camilla Lopes

Hoje em dia sabemos que em meados do século XVI havia todo um poder maior girando em torno da Igreja católica. É comum acharmos que na época da colonização, nobres e pessoas no poder em geral eram cientes das falcatruas da Igreja, mas as contornavam para poderem exercer o seu poder também. Em outras palavras, os colonizadores aproveitavam o domínio da Igreja pela fé para dominar.
Não que este fato esteja incorreto, pelo contrário. A Europa naquele momento passava da Idade Média para a Moderna, dos feudos para a expansão marítima, tendo um desligamento do clero, que passava a não mais ser grande senhor de engenho, mas sim um apoio ao rei e aos grandes mercantilistas.
Certamente que a Igreja teve seu passado negro. Durante a Inquisição, pessoas foram torturadas (muitas vezes injustamente), livros foram proibidos e queimados e até mesmo as palavras da bíblia foram mudadas para palavras de maior interesse, já que apenas os padres podiam saber latim e logo ninguém mais era capaz de ler o livro sagrado (na época transcrito apenas para essa língua).
Tudo parece uma máfia interesseira, imaginando assim. O que não paramos para pensar, porém, e o que os livros escolares muitas vezes não frisam, é que esta é uma versão generalizada. Nem tudo foi combinado e feito um acordo maléfico entre nobres e Igreja. Não existia uma separação concreta e pura entre vilões e mocinhos. Os nobres ou colonizadores muitas vezes tinham suas crenças e se apegavam a elas, tendo que exercê-las custe o que custar. Naquela época o pensamento era extremamente diferente do que vivemos hoje.
Um grande exemplo é o que o livro Colombo e os Índios, de Txvetan Todorov cita. A primeira referência de Colombo quando chega à América é à nudez dos índios, que por estarem desprovidos de roupa - o que era estranho para a cultura européia – eram desprovidos também de cultura. Sendo assim, é comum lermos sobre a justificativa de levar a civilização aos povos selvagens usada na colonização. Sim, há também por trás disso todo o interesse em mercadorias e metais nas colônias. Mas é inegável que há uma lógica na opinião de Colombo em relação à ausência de cultura dos indígenas já que para um homem como ele, os seres humanos passaram a se vestir após a expulsão de Adão e Eva do paraíso. Isso vale para muitos outros europeus que chegarem à América e a olharam com seus olhos habituados a sua cultura e apenas a ela.
Há de se relevar exceções dentro da história da colonização (como em qualquer outra história). Nem tudo foi um plano de domínio estratégico, ou um grande acordo secreto entre as classes superiores. Havia uma crença e uma cultura e, devido a elas, um bloqueio para com culturas diferentes. Isso devia ser comentado em qualquer instituição de ensino. Senso crítico é algo que deve ser desenvolvido no ser humano desde sempre.

Um comentário:

  1. uau! eu já nem lembrava mais dessas coisas de história.. haha =) muito bom!

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