O PAPEL É O MELHOR OUVINTE, PORQUE NÃO TE ESCUTA SÓ PRA ESPERAR A VEZ DE FALAR






segunda-feira, 1 de março de 2010

BBB 11

Vanessa era uma mulher bonita e bem sucedida. Sempre foi filhinha de papai e, aos seus 25 anos de idade, já podia dizer que havia viajado o mundo inteiro ao lado de seu recém marido. Era empresária e carregava nas costas a empresa que havia herdado de seu pai, junto com uma enorme fortuna. À primeira impressão, Vanessa se mostrava autoritária e seca, do tipo que se vê superior a todos ao seu redor.

Em uma quinta feira, Nessa (como era chamada pelos mais íntimos) vestiu seu terninho preto e seu scarpin de salto altíssimo, saindo, logo em seguida, em direção ao elevador junto com seu esposo Jorge, já que este a iria levar ao trabalho no dia do rodízio de seu carro. Os dois enquanto andavam pelo corredor encontraram Charlotte, sua vizinha de porta, vestida com saias estampadas compridas, sandálias marrom sujo e uma blusa branca surrada. Os outros vizinhos costumavam dizer que Charlotte era hippie, e até mesmo que não tomava banho. Vanessa não a admirava muito por isso.

Os três se cumprimentaram com um aceno de cabeça cordial, daqueles que as pessoas dão quando não sabem bem como lidar com a situação, e entraram no elevador que já se encontrava no andar. Quando entraram, se depararam com a senhora Christine, uma velhinha viúva que morava no andar de cima sozinha com seus três cachorros e dois gatos. Jorge costumava reclamar muito do barulho que os cachorros faziam correndo atrás dos gatos enquanto assistia ao noticiário, e Vanessa, para não escutar mais as histerias do marido, corria para o armário de produtos de limpeza pegar uma vassoura para cutucar o teto de sua casa, que por sua vez era o chão da casa de Christine. A atmosfera que já estava um pouco pesada entre os três primeiros se completou com a quarta integrante. “Que bela maneira de começar o dia”, pensou Nessa, olhando para Jorge com um olhar cúmplice e o odiando por ele desviar o olhar como se ela o estivesse envergonhando.

De repente, a luz do elevador começou a piscar, apagando e acendendo, e um certo tremor assustou os quatro passageiros daquele cubículo. Não demorou muito tempo para o elevador começar a engasgar e diminuir a velocidade lentamente até que parou completamente, acendendo apenas as luzes de emergência. “Você só pode estar brincando...” soltou Vanessa para ela mesma.

Jorge também não se sentia à vontade naquela situação. Pegou o celular do bolso e tentou ligar para a portaria, numa tentativa frustrada de fazer funcionar o aparelho de dentro do elevador, onde não tem sinal. Charlotte aproveitou o quadro para sentar e descansar, já que não havia dormido bem. E Christine, se consolava sozinha em meio aos quase resmungos e lamentações de uma reza. Os quatro vizinhos, antes separados por algumas vigas de concreto e paredes de tijolos, agora estavam todos no mesmo lugar, ao mesmo tempo, sem ter para onde fugir. Compartilhavam o mesmo quadrado da televisão da portaria que monitorava as câmeras de segurança do condomínio. Não sabiam eles, aquela câmera era agora o único meio de contato com o exterior do elevador, uma vez que o interfone do mesmo, como comunicado na semana anterior, se encontrava quebrado.

O visor marcava o quinto andar, justamente o andar da síndica, da qual o prédio todo desconfiava ter um caso secreto com Jorge. No mesmo andar, havia um garoto solteirão por quem a velhinha arrastava uma azinha, pedindo-o sempre para ajudá-la nas compras do sacolão e qualquer meio motivo era razão para chamá-lo ao seu apartamento: um canal da TV à cabo sem funcionar, uma lâmpada sem funcionamento ou uma barata que ziguezagueava pela cozinha.

Alheia a todos os moradores, e alheia também aos cochichos e fofocas corriqueiras, Charlotte reclamou da síndica no mesmo instante que viu que o elevador encontrava-se naquele andar, produzindo uma estranha reação de defesa por parte de Jorge, que resultou num posterior silêncio constrangedor. Logo em seguida, Vanessa incendiava aquele local com perguntas sobre a defesa de Jorge à síndica. Ao mesmo tempo, risinhos e conciliábulos eram percebidos por parte de Christine, que adorava ver um casal em discussão. Ao perceber isso, a mulher insultou a velhinha pela indiscrição e aproveitou para destilar impropérios sobre os gatos, cachorros e “aquele zoológico todo” que morava em seu apartamento.

Enquanto isso, na portaria, Zé e Antônio, respectivamente o zelador e o porteiro do turno diurno, se gargalhavam dos gestos que viam na câmera, chamando atenção de todos que por ali saíam ou entravam do condomínio. Aos poucos, empregados e prestadores de serviços que chegavam ao trabalho resolviam parar para dar uma espiadinha no que causava tanto alvoroço nos dois funcionários do prédio, antes de subirem para suas funções. Volta e meia, também paravam alguns moradores que, conhecendo os personagens da câmera, se divertiam mais ainda com o acontecimento. E aquilo tomou tanto o tempo de Zé e Antônio que eles até se esqueceram de chamar a empresa responsável pelo concerto do elevador. E em meio ao tumulto, Charlotte era vista de canto e continuava passiva diante das brigas de casais e de vizinhos e parecia quase surda quanto aos assuntos ali discutidos, e isso dava um ar ainda mais cômico à cena.

Passadas duas horas e meia da, naquele momento, já diagnosticada pane hidráulica no elevador, que agora já se via livre dos passageiros, tudo já estava encaminhado: a separação do feliz casal que vivia no apartamento 85, justificada por uma confissão de adultério do marido, a decisão de suicídio por parte da moradora do 95, que se via solitária no mundo e que, finalmente, percebera que seus cachorros, gatos e garotões que ela paquerava não substituíam o seu antigo esposo, nem se importavam com ela como o outro o fazia. Só o que não estava decidido, afinal, era onde que Charlotte enfim iria almoçar naquele dia: no restaurante indiano ou no por quilo do lado de casa?

2 comentários:

  1. hahaha muito legal, criativo e com humor, gostei.

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  2. Boa noite gente! Muito Prazer meu nome é Ronaldo tenho 23 anos e moro em Foz do Iguaçu-Paraná, sou estudante, faço faculdade Publicidade e Propaganda e trabalho na loja de materiais de construção. Sou surdo, e gosto de fazer novas amizades; conversar muito com os ouvinte e surdos. Mas não sou mudo! Consigo interpretar o lábio das pessoas e escutar um pouquinho.Gostaria muito de participar da casa do Big Brother Brasil. E conhecer novas pessoas, e poder fazer mais amizades... que sempre são bem vindas e claro pelo prêmio!
    Eu gosto de ensinar os ouvintes a aprender libras, é super divertido.
    E depois nós continuamos falando libras, que muitos aprendem facilmente. A ideia de ter um surdo em um realy show é diferente, e sei que o Brasil inteiro vai se interessar mais por essas pessoas e gostar dessa diferença!! E concerteza, vão adorar me conhecer! E quem disse que surdo não pode ser gay? hahaha.. Sou gay, mas não sou afeminado! Abraços a todos, e se Deus quiser em breve estarei no BBB11!!!

    meu e-mail é roh.rocha@gmail.com
    meu Orkut é http://www.orkut.com.br/Main#FullProfile?uid=11361406705466108442

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