-por Otávio Silva
-Que felicidade! Eu não poderia estar mais feliz!
-Isto é óbvio.
-Jura?! Está tão na cara? Deve estar escrito na minha testa, não é?
-Não, na sua cara só os mesmos óculos tortos e as espinhas de sempre. E na testa, algumas rugas novas, pra falar a verdade.
-Poxa! Não precisava me lembrar dessas coisas. Mas por que raios você disse que é óbvio eu não poder estar mais feliz?
-Porque isto é impossível.
-Ahn?!
-Felicidade é só um sentimento. Não dá pra medir sentimentos.
-Claro que dá!
-Em qual escala? Metros, quilogramas? Graus centígrados, talvez?
-Em nenhuma destas, oras! Mede-se pelo número de sorrisos na cara por dia.
-Ah, deixa de besteira! E os sorrisos amarelos, entram na conta?
-Ah... Estes não contam...
-Não faz sentido. Os sentimentos são abstrações ideais e subjetivas dos seres humanos: nenhum tipo de objetivação seria capaz de calculá-los.
-Então somos todos felizes iguais?
-Não. Claro que não. Pessoas são felizes ou não, simplesmente. E mais: "feliz" foi só o nome que alguém inventou pra descrever sua própria abstração. Portanto, se você pensa que sente a mesma coisa que esse alguém, chame-se de "feliz"; se não, não.
-E o que é que significa "ser feliz", então?
-Pelo nosso queridíssimo amigo dicionário, felizes são aqueles que se sentem satisfeitos e contentes. E vai de cada um se sentir feliz com o que for.
-Ah, mas que mediocridade! Pensamento pequeno, amigo!
-Este é o problema: ultimamente as pessoas querem ter sempre mais e mais e nunca se contentam: o carro mais rápido, o celular menor, o tênis da moda; nunca se sentem satisfeitos: querem ser o vencedor, o número 1, nota 10, sucesso sempre... Nada é o suficiente.
-É isso aí! O segundo lugar é o primeiro dos perdedores.
-Então tá. Vá ser o primeiro colocado e vencedor sozinho enquanto eu vivo em festa com os perdedores.
Hum. Faço parte da segunda corrente. Eu sei medir a minha felicidade. Ótima argumentação!
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