O PAPEL É O MELHOR OUVINTE, PORQUE NÃO TE ESCUTA SÓ PRA ESPERAR A VEZ DE FALAR






sábado, 30 de julho de 2011

Sorria! Você tá sendo filmado!

-por Otávio Silva



Ele ouviu falar que sorrir era a melhor forma de causar uma boa primeira impressão em alguém. E como não se tem uma segunda chance de causar uma boa primeira impressão, ele sempre sorria ao conhecer alguém.

-O que você me pede chorando que eu não te faço sorrindo?

Era o que ele sempre dizia a elas, nos primeiros encontros, respondendo a qualquer tipo de pedido. Qualquer tipo de pedido: fútil, mimado ou manhoso. Ele conhecia esse tipo de pedido manhoso. Pedido que as mulheres fazem pra ver o que o homem é capaz de fazer por ela.

Ele sabia que os homens se guiam pela visão, e as mulheres, pelo que escutam. E também sabia que, em consequência disso, elas se pintam e maquiam, enquanto eles mentem. E falava tudo pra elas. Tudo que elas queriam ouvir. Segredos bobos inventados, sonhos infantis, histórias mirabolantes, vantagens mil. Gritava o amor aos quatro cantos, sussurrava sacanagens, ao gosto da freguesa...

E depois de enjoar delas, sumia como o Sol faz ao anoitecer. Devagar... Aos poucos... Encaminhava-se para o horizonte... Cada vez mais longe... Mais inalcançável... Deixando um rastro de luz por onde passava e as portas abertas para o próximo amanhecer. Pra ele, era essa a ordem natural dos fatos.



Ela ouviu falar que mulher tem é que saber se valorizar, porque todo homem é canalha o suficiente pra te machucar. Todo e qualquer homem nunca é bom o suficiente. Tem que provar que te merece!

-O que você me pede sorrindo que eu não te faço chorando?

Era o que ela poderia responder a eles, nos primeiros encontros. E ela lá era mulher de fazer tudo o que o homem quer? Ela era muito mais do que um rolinho qualquer. Tinha de se fazer de difícil: desmarcava várias vezes antes de saírem pela primeira vez.

E quando finalmente saíam, ela era fria, gélida. Não penteava o cabelo com as unhas, não inclinava o corpo na direção deles, não sorria fácil, não dava aberturas. Nenhuma.

Ela sabia que não deveria se arrastar atrás deles, nem demonstrar interesse, por que assim as coisas ficam simples demais para eles. E ela sabia que as mulheres devem complicar ao máximo. Sabia que os homens pensam que as mulheres são como notas de dinheiro: ninguém se arrepende de gastar um papel valendo dois reais. Mas aquela nota bonitinha, novinha valendo cem, que você quase nunca vê na carteira, realmente vai fazer falta!

E por isso, não se entregaria a dengos de um Dom Juan descartável. Não se entregaria pra depois chorar seu abandono.







Os dois achavam que as suas lágrimas não compram o sorriso um do outro.

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