O PAPEL É O MELHOR OUVINTE, PORQUE NÃO TE ESCUTA SÓ PRA ESPERAR A VEZ DE FALAR






domingo, 20 de junho de 2010

02:02

- por Camilla Lopes

Ela estava novamente com uma folha em branco e uma caneta preta em suas mãos. Ao lado, sobre a mesa, estavam bolinhas de papel, as quais ela contava distraidamente. “Vinte e uma. Deus, vinte e uma tentativas”, dizia para si mesma. Ela havia escolhido fazer uma carta porque sempre teve mais facilidade com a palavra escrita do que com a falada, mas agora parecia que nem uma nem outra funcionavam. Tudo que ela escrevia parecia clichê, dramático, exagerado. O sentimento que sentia era exagerado, grande de mais para caber em seu peito, e ela odiava tudo isso. “Você não faz idéia do quanto eu gosto de você, mas me desculpe, não vejo jeito disso dar certo”, recomeçou. Mas por que raios ela estava pedindo desculpas? Não tinha feito nada de errado, ele tinha feito. Ele tinha estragado um dos sentimentos mais verdadeiros que ela já tinha sentido na vida. Mais uma folha se juntou às bolinhas amassadas. Ela respirou fundo, colocou uma música e tornou a refletir, olhando para fora da janela. Incrível como a inspiração surge apenas nas horas inapropriadas. “Droga.”, e voltou-se novamente para o papel: “Eu sou apaixonada por uma parte de você que eu não sei se existe”. Não, não estava bom. Vinte e três bolinhas de papel. “Não vejo por que continuar com isso se de um jeito ou de outro eu vou me machucar”. Não. Não, não, não. Aquilo parecia tão confuso. Um aglomerado de letras que não fazia sentido algum. Daqui a um tempo ela leria aquela carta novamente e se sentiria uma criança de doze anos de idade, idealizando, vivendo sozinha uma comédia romântica água com açúcar. As ideias e as conclusões estavam em sua cabeça, passavam por seus olhos deixando lágrimas, mas não chegavam até a ponta da caneta, e isso começou a desesperá-la. Então, encostou a cabeça na ponta da mesa, e deixou seus pensamentos fluírem à vontade por um momento, quase caindo no sono. Não custou muito tempo de mente livre para perceber o que realmente gostaria de escrever. Ela rasgou sua última folha de papel em um pequeno quadrado, e, de uma vez só, escreveu: “Não é que eu não queira ficar com você. É que eu quero não ficar com você”.

2 comentários:

  1. nossa eu amei essa parte “Eu sou apaixonada por uma parte de você que eu não sei se existe”. Pq é realmente o que eu sinto em realção ao meu ex-namorado, esse texto é muito bom, parabéns! o Otávio tava certo! haha

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  2. simplesmente ameiii!! me identifiqueii muitooo!! até umas lágrimas escorreram... ahhaha... perfeitooo!! estão de parabénss!

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